Capítulo 8
- Dani Assis
- 11 de nov. de 2021
- 2 min de leitura
Pilar
Zander inclina a cabeça, surpreso com o pedido estapafúrdio de Pina. Não entendo esse interesse delas. Hoje ao acordar perguntou dele e agora o impede de ir embora?
Ele morde o canto da boca e baixa a cabeça, com certeza buscando uma maneira de negar esse pedido despropositado. E essa fixação com a perna dele está me colocando em tantas saias justas que não tenho mais onde enfiar a cara.
Decido intervir para não deixar sobre suas costas o peso de rejeitar a rogativa de Pina.
— O Zander não pode ficar. Ele precisa ajudar a tia Suria a… — Olho para Suria lembrando das tarefas que rotineiramente faz — cortar algumas roseiras que estão... subindo para o muro do vizinho. É isso, ele precisa ajudar com as roseiras.
Pina e Pietra enrugam o nariz descontentes.
— Que lorota é essa? — Pietra indaga, apontando a luz da lanterna contra meu rosto.
— Não é uma lorota. Eles têm outras obrigações. Não podem ficar aqui brincando com vocês.
— É verdade? — Pina cruza os braços e questiona Suria.
Enfio as mãos por entre os fios dos meus cabelos, apertando meu couro cabeludo. Eu estou tão cansada, quase não dormi desde que ela caiu. E isso não é nada se comparado ao pavor que senti ao vê-la cheia de sangue e a médica suturando sua perna.
— Vocês podem me ouvir, por favor. E parar de questionar cada coisa que digo? — Elas percebem a mudança do meu humor e se calam. Ambas emburradas. Às vezes, sinto que vou explodir, que vou me transformar em pedaços, tamanha a pressão que colocam sobre mim.
— É mentira que você vai ajudar a tia Suria, não é? Ela não gosta que ninguém mexa em suas roseiras — Pina insiste.
Suspiro e fecho os olhos.
— Sim, era mentira! Eu estava tentando ajudar Zander e Suria a não ficarem sem jeito, Pina.
— Você está bem? — pergunta Zander, caminhando alguns passos em minha direção. Talvez minha voz tenha subido alguns tons.
As meninas se entreolham por alguns segundos. Sei que estão conversando apenas com o olhar, é uma conexão que existe entre elas que nem me adianta tentar entender. Elas podem confabular uma história completa neste tempo, mesmo que não saia uma palavra de suas bocas.
— Desculpem a gente por insistir. Sabemos que vocês têm trabalho também. — Pina diz a Suria e Zander com uma voz tão doce quanto os doces que Dona Gertrudes prepara. Ela baixa a cabeça encarando a perna enfaixada.
Zander percorre seus olhos por mim e pelas meninas.
— Eu posso ficar um pouco mais — diz ele, a voz naturalmente grave que vibra em meu peito.
— Por que estão me desautorizando? — questiono, chegando bem perto de Pietra.
— O que eu fiz? — rebate ela, fazendo-se de inocente.
— Eu não sei o que estão articulando nessas cabecinhas, mas desistam agora.
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